Importância do acompanhamento técnico da produção de grama
Importância do acompanhamento técnico da produção de grama para obtenção de altas produtividades
Livia Sancinetti Carribeiro - Coordenadora Executiva Grama Legal; Matheus Vinícios Leal do Nascimento (Mestrando Unesp/Botucatu); Patrick Luan Ferreira dos Santos (Doutorando Unesp/Botucatu)
A implantação de uma área de produção de gramas requer um planejamento que engloba a escolha e preparo do solo, o conhecimento acerca das técnicas de produção, a escolha dos equipamentos necessários, a obtenção de mudas de qualidade e o estudo do mercado regional.
Diferentemente do que muitos possíveis produtores possam imaginar a grama, assim como outras culturas (soja, milho, feijão, algodão etc...) requerem tratos culturais específicos desde a implantação da área até a colheita. O manejo adequado do solo, adubação, irrigação, controle de plantas daninhas, doenças e pragas são essenciais para o sucesso e obtenção de altas produtividades. Ou seja, a grama não é produto de extrativismo, mais sim uma cultura com importante demanda comercial, sendo amplamente utilizada em obras publicas, privadas, projetos de paisagismo, campos esportivos, etc.
Ao cultivar grama, a principal preocupação do produtor deve ser produzir um gramado que apresente um bom enraizamento e desenvolvimento uma boa quantidade de rizomas e/ou estolões e parte aérea com aspecto saudavel e vigoroso. Após a colheita, o principal objetivo é a brotação e desenvolvimento dos rizomas, estolões e raízes da grama que permameceram na área colhida, pois são as estruturas e que darão inicio ao novo ciclo da cultura.
Uma colheita bem sucedida - tapetes íntegros, bem formados e poucas perdas por quebra – é, portanto, resultado de um manejo bem realizado no decorrer de um ano de cultivo da grama.
É essencial que toda área de produção tenha acompanhamento técnico de um profissional especializado (Eng. Agrônomo) na cultura e que o mesmo possa orientar o produtor quanto aos tratos culturais a serem realizados no decorrer do novo ciclo de produção.
O sucesso da produção de grama dependerá de diversos fatores que precisam ser analisados desde a implantação, decorrer do ciclo e colheita.
1) Caracterização granulométrica do solo
Coleta de amostras para avaliação da fertilidade do solo.
A caracterização granulométrica do solo corresponde à proporção areia, silte e argila no mesmo. Deve ser realizada na implantação da grama. A variação nessas proporções são de extrema importância, pois determinarão: Retenção de água no solo, Capacidade de compactação, retenção e disponibilidade de nutrientes.
O conhecimento acerca da textura do solo é um fator de extrema importância principalmente para a colheita, pois determinará a lâmina de irrigação a ser aplicada no solo no dia anterior a compactação que permita a colheita de tapetes inteiros bem como proporcionar a mínima compactação do solo logo abaixo do tapete removido, para que a grama que venha a se formar posteriormente necessite do menor tempo possível para o desenvolvimento e condições de solo mais adequadas.
Quanto mais argiloso o solo, maior a retenção de agua, mais sujeito a compactação ele está. O mesmo vale para a condição inversa.
2) Densidade do solo
Coleta de amostras indeformadas para avaliação da densidade do solo.
Expressa a quantidade de partículas de solo em um volume conhecido. Quanto maior a quantidade de partículas por volume, maior a densidade e mais compactado o solo está.
O volume ocupado pelas partículas também determina o quanto de poros (macroporos e microporos) ainda está disponíveis para circulação de ar (essencial para a respiração das raízes), retenção de água e drenagem da água pelo perfil do solo e abastecimento dos lençóis freáticos.
É outra característica que expressa os efeitos do mau manejo do solo pelo produtor e que refletem diretamente sobre o desenvolvimento do gramado.
3) Resistência do solo à penetração de raízes
Resistência do solo a penetração.
A avaliação da resistência do solo a penetração de raízes é outra prática muito importante que deve ser realizada com certa periodicidade pelo produtor. Ela expressa a força que a ponta das raízes da grama encontram ao penetrar no solo. Quanto mais compactado o solo estiver, maior será a resistência a penetração do mesmo e mais dificuldade o sistema radicular da grama encontrará para se desenvolver, absorver água e nutrientes.
Diversos estudos realizados demonstram que valores relativamente elevados podem ser bastante críticos para diversas culturas, inclusive para a grama. Entretanto são verificados em áreas de produção de grama valores muito superiores a estes. Tal fator é resultado do mau manejo da irrigação e compactação no momento da colheita dos tapetes bem como da descompactação do solo após a colheita.
4) Amostragem de solo para análise da fertilidade do solo
A coleta de amostras de solo para análise química da fertilidade (macronutrientes, micronutrientes, acidez e toxidez por Al) deve ocorrer na semana que antecede a colheita dos tapetes de maneira que o resultado da mesma coincida com fim do corte da área.
A coleta das amostras deve ser representativa o suficiente para demonstrar com maior precisão o estado nutricional do solo. Essa representatividade está principalmente atribuída ao número de pontos amostrados dentro da área e profundidade de amostragem. Quanto maior o número de camadas amostradas, mais preciso o resultado do estado nutricional do solo para o desenvolvimento da grama
Os resultados da análise determinarão a quantidade de nutrientes a serem repostos no solo (macro e micronutrientes), necessidade de correção da acidez, mediante a aplicação de calcário e redução do nível de toxidez por alumínio através da aplicação de gesso, quando necessário.
A recomendação de adubação deve ser realizada com base nas necessidades especificas de cada espécie de grama (Zoysia, Cynodon, Axonopus, Stenotaphrum, Paspalum) e resultados da análise de solo.
5) Análise da parte aérea
Coleta de amostras de parte aerea para determinação do teor de nutrientes nas gramas.
A análise química de parte aérea permite avaliar o estado nutricional das gramas. Através desta analise é possível avaliar se a adubação que vem sendo realizada pelo produtor é deficiente, adequada ou excessiva quando comparado a valores de referência.
A área avaliada deve ser subdividida em talhões/ quadros, e o número de pontos amostrados (pontos onde serão realizadas as coletas das folhas da grama), devem representar de maneira significativa área avaliada dentro da produção. Dessa maneira os resultados obtidos expressarão, com precisão, o estado nutricional do gramado e permitirão a tomada de decisão mais seguras quanto ao manejo de adubação. As amostras devem ser coletadas 15 dias após a adubação ou aplicação de defensivos agrícolas, devendo-se evitar a realização coletas próximos de cercas, árvores, formigueiros e estradas.
Dependendo da época do ano e da espécie, a exportação de nutrientes pelas gramas é diferenciada, sendo maior durantes a primavera/verão, e de menor concentração no outono/inverno. Todas as gramas apresentam exigências nutricionais diferenciadas, contudo, o nitrogênio é o nutriente requerido em maiores quantidades.
Avaliação de cor.
Métodos alternativos, não destrutivos, de avaliação da cor (espectrofotômetro) também podem ser utilizados para diagnosticar o estado nutricional do gramado, entretanto, somente expressam/ estimam o teor de N nas folhas da grama. Tal método baseia-se na quantidade de luz absorvida, transmitida e refletida pelas moléculas de clorofila das gramas, que se correlacionam como teor de clorofila das folhas e consequentemente com o teor de N. Dessa forma, partindo do princípio que a deficiência de N leva a redução na intensidade da coloração verde das folhas, estas medidas podem ser utilizadas para monitorar o estado nutricional dos gramados baseados em N. Portanto, a redução na intensidade da coloração verde indica a necessidade da aplicação de N.
Ambos os métodos expressam o estado nutricional da cultura e permitem que o Eng. Agrônomo recomende a realização de manejo adequado para cada área.
6) Qualidade dos tapetes
Teste de resistência de tapetes ao rompimento.
Mesmo nos dias de hoje a gramicultura no Brasil ainda tem o desafio de introduzir a padronização ou pelo menos difundir o que seria um produto de qualidade tratando-se de tapetes de grama. Essa determinação poderia impulsionar a valorização dos tapetes de grama no mercado e proporcionar uma maior remuneração aos produtores que se adequarem a essas normas.
A padronização dos tapetes permitiria que os produtos diminuíssem os prejuízos e perdas durante a colheita, transporte, tempo de rebrota e possibilitaria a comercialização de um produto com excelente qualidade para manuseio durante o transplantio.
Aspectos ligados à condução da cultura e práticas de manejo (adubação, irrigação, compactação, descompactação) são os fatores primordiais para a formação rizomas, estolões e raízes; determinação da espessura de tapetes; peso de tapetes e resistência ao manuseio. Na produção de gramas, o crescimento vigoroso e o volume dessas estruturas são mais importantes que o desenvolvimento da parte aérea, e permitirão a colheita de tapetes resistentes, proporcionando altas produtividades ao produtor.
Tendo uma formação de qualidade das estruturas essenciais, deve-se ter foco e atenção nas práticas de colheita. É primordial que o produtor esteja atento a uma série de especificações: umidade do solo no momento da colheita; peso e número de passagem de rolo compactador; regulagem e afiação das maquinas de colheita e profissionais capacitados e atentos durante todo o processo de colheita.
Essas práticas quando realizadas de forma inadequada podem comprometer todo manejo executado durante produção. Uma colheita mal executada pode resultar em perda de qualidade de tapetes e prejuízos no próximo ciclo da cultura. Além disso, a espessura e peso dos tapetes podem comprometer volume de carga a ser transportado bem como o próximo ciclo da cultura uma vez que grande parte dos rizomas e estolhos que dariam origem ao novo gramado foram removidos durante a colheita dos tapetes grossos.
Portanto, produtores que colhem tapetes grossos apresentarão futuramente muitos problemas com atraso no desenvolvimento e formação do gramado (prolongamento do ciclo).
A resistência ao manuseio pode ser determinada através de ensaios de resistência mecânica a tração que se baseiam no princípio do tracionamento das do tapete grama e que simulam a de manipulação durante a colheita. Quanto maior a resistência, maior a quantidade de estruturas vegetativas (rizomas, estolões e raízes), melhor a qualidade do tapete.
Dessa forma, padrões de valores de resistência podem ser definidos para a comercialização e valorização do produto no mercado