Implantação de Gramados Esportivos
Com o passar dos anos, os gramados ganharam destaque tanto pelo seu admirável valor estético como por suas diversas funcionalidades, onde houve uma mudança radical no conceito de qualidade. Com a Copa do Mundo de 2014, novas tecnologias de implantação e manutenção foram importadas e discutidas visando atender às exigências do Comitê Organizador (FIFA). Junto a isto novas arenas foram construídas, o que além de criar novos desafios como a manutenção de variedades esportivas em condições de pouca luminosidade, provocou um salto de qualidade nos demais gramados brasileiros. Quanto aos Jogos Olímpicos de 2016, ocorreu a reintrodução do golfe e a construção de um novo campo dentro dos padrões USGA (United States Golf Association), organizadora mundial dos grandes torneios. Assim, a construção e implantação de campos esportivos, é um ponto primordial e importante para desenvolvimento do gramado, sendo essencial aquele campo que possa propiciar excelente jogabilidade e ser visualmente agradável aos olhos (aspecto estético).
Dessa forma, a qualidade da superfície gramada de áreas esportivas, como campos de futebol, é fundamental para que o evento seja realizado corretamente, onde todo o processo se inicia na base do campo. Durante uma partida de futebol não pode haver interrupções devido ao acúmulo de água na superfície gramada causada por períodos chuvosos não previstos ou chuvas inesperadas levando à formação de poças de água.
A drenagem é, portanto, um dos itens mais importantes na construção de um campo esportivo, pois um campo mal drenado interferirá não somente durante o evento, como também diretamente no desenvolvimento da grama e na sua manutenção futura. Um solo mal drenado compromete o crescimento das raízes por falta de oxigênio no solo, levando a menor absorção de nutrientes, ao aparecimento de doenças, dificuldade no corte do campo e na prática do jogo pelos atletas.
Em campos de futebol de alta performance tem-se a drenagem superficial e a subsuperficial. A primeira é fundamental para que não haja a ocorrência da formação de poças e para que resulte na adequada captação e dispersão da água da chuva, devendo ser sutil de 1 a 2% desde o centro do campo. A segunda é de importância maior em relação à drenagem de superfície porque capta o fluxo de água que cruza o “topsoil” e acelera o processo de expulsão da água do campo a fim de minimizar o seu acúmulo na área onde a precipitação realmente acontece. De forma geral os campos são compostos por um sistema de drenagem do tipo “espinha de peixe” onde uma tubulação é envolta de uma manta geotêxtil e coberta com britas e fechada, e acima dessa tubulação encontra-se uma camada de areia média e acima dessa camada que é alocada a base de topsoil, onde o gramado ira de desenvolver.
Topsoil é uma mistura de areia e matéria orgânica, em uma camada com espessura que pode variar de 20 a 30 cm, de fundamental importância no desenvolvimento da vegetação. Ela é colada em campos esportivos, após a camada superficial do solo ser removida. A correta mistura desses componentes contribui para boa drenagem, pois este irá reter umidade e nutrientes necessários ao crescimento e fortalecimento da grama. Existem condicionadores de solo que podem ser usados como aditivos à matéria orgânica na composição do “topsoil”. A composição ideal está entre 80 a 90% de areia média e 10 a 20% de matéria orgânica. A fonte destes materiais é muito importante, porque eles podem conter plantas daninhas, pedras e até produtos tóxicos que podem ser obstáculos para o desenvolvimento da grama. Portanto, o “topsoil” tem uma participação muito importante no processo de drenagem, pois além de permitir o desenvolvimento adequado da espécie, permite a infiltração da água que se acumula devido à precipitação pluvial ou irrigação. Por esse motivo, o solo deve apresentar permeabilidade superior à intensidade da precipitação (mm h-1) da região onde o campo de futebol será construído.
Diferente de áreas esportivas, o campo de golfe é divido em greens (área nobre onde fica a buraco para tacada final), Tees (onde o jogador faz a tacada inicial), Fairways (região de grama baixa onde é mais fácil para o jogador dar a próxima tacada desde os tees até os greens) e Rough (região de grama alta, onde é difícil rebater a bola). E na construção de um campo de golfe, o solo ideal deve ser um pouco arenoso, para facilitar a drenagem da água da chuva ou da irrigação.
Os greens também são construídos em locais onde há a remoção de uma camada de solo de 1 m, aproximadamente, substituída por uma camada de cascalho, coberta com uma camada de areia (80 a 95%) e matéria orgânica (principalmente turfa) que varia de 5 a 20%. Esta técnica é baseada nas recomendações da USGA, e utilizada para melhorar as características de drenagem e compactação destas áreas que estão sujeitas a intenso uso e tráfego, e devem apresentar boas condições para serem utilizadas diariamente, o que, provavelmente, não ocorreria se mantivesse um solo argiloso, que ficaria compactado facilmente, ocasionando locais alagados, e a morte da grama. Alguns profissionais já recomendaram para a base de greens, o uso apenas de areia pura.
Em alguns países, campos de golfe são construídos em regiões desérticas, pois a base é de areia, e facilita a drenagem, e juntamente com o tipo de grama ideal, tecnologias de manejo de adubação e irrigação o campo se mantém em condições adequadas para o jogo. É essencial que o campo de golfe possua leves ondulações, pois um terreno plano pode deixar o jogo com poucos desafios, contudo, um relevo íngreme necessitará de serviços de terraplanagem (o que gerará maiores custos).
Em outros campos esportivos como tênis e bowls, por exemplo, na composição do “topsoil”, entra uma porcentagem de argila (10 a 20%) para dar mais rigidez ao piso. Enquanto em campos de polo equestre, o gramado geralmente se desenvolve diretamente sobre o solo, uma vez que esse esporte é uma modalidade que submete o campo a um uso extremo (combina potência, atletismo e controle). Contudo, espera-se que o campo tenha uma superfície de jogo suave e resiliente o suficiente para suportar o impacto agressivo dos cascos de cavalos ao longo de uma temporada.
Independentemente do tipo de campo a ser instalado, um dos fatos que se deve ter em conta, é que quando um gramado esportivo é preparado com o uso de “topsoil”, sempre que for possível deve ser escolhida uma forma de plantio que não leve com a grama a ser plantada outro tipo de solo que não seja o mesmo do toposil. Isso ocorre principalmente com o plantio de grama em tapete. O solo que vai junto com o tapete, normalmente, contém argila que futuramente pode deixar uma camada impermeável na superfície do local de plantio, prejudicando a drenagem. Para greens de golfe, por exemplo, o plantio é por estolões ou plugs, pois não pode haver qualquer risco de contaminação com outro tipo de solo. Entretanto, em alguns estádios, como na arena do Maracanã do Rio de Janeiro-RJ, ocorreu a instalação com rolos de grama para os jogos da copa de 2014 produzidos em solo arenoso, com um preparo técnico antes da implantação do gramado no estádio. Tecnologia essa que também era amplamente usada no estádio do Alliaz Parque São Paulo-SP antes da colocação do gramado sintético.
Com relação as gramas utilizadas em campos esportivos, são essenciais espécies que tenham maior resistência ao pisoteio e rápida regeneração, além de maior maciez, facilitando o rolamento da bola e amortecendo o impacto dos jogadores. Para campos de futebol de alta performance é recomendado espécies como as gramas gramas bermudas (Cynodon spp.) pois elas apresentam referidas características. Dentre as cultivares mais recomendadas tem-se a “Tifway 419” (C. dactylon x C. transvaalensis) ou a “Celebration” (C. dactylon) que tem ganhada cada vez mais espaço, devido a sua regeneração mais rápida e maior tolerância ao sombreamento que as demais bermudas.
A esmeralda (Zoysia japonica) que é a principal grama comercializada no país, foi durante muitos anos a principal espécie de campos esportivos de futebol de alta performance no Brasil, contudo atualmente é utilizada principalmente no paisagismo e em campos esportivos como Fairways e Roughs de campos de golfe, centros de treinamento de equipes esportivas e no futebol amador.
Em greens de golfe só podem ser usadas gramas que toleram podas extremamente baixas, as chamadas espécies “Ultradwarfs”, pois essa área do campo é considerada nobre e deve ser como um verdadeiro “tapete”, sendo cortadas quase que diariamente. Novamente, as bermudas são as mais utilizadas no Brasil para essa finalidade, sendo as cultivares TifEagle, Tifdwarf e Tifgreen as mais recomendadas. Contudo, recentemente nos EUA, surgiram as chamadas mini zoysias, que são cultivares de espécies do gênero Zoysia que toleram podas muito baixas e que estão sendo implantadas em greens, como é o caso das variedades Trinity (L1F) e Primo (M85).
Em Farways e Roughs geralmente são plantadas várias espécies de gramas, sendo usualmente utilizada a grama esmeralda. Contudo com a introdução de duas novas variedades de Zoysia no país (Geo e Zeon), vários campos olímpicos passaram a receber referidas espécies em seus Farways, como é o caso do Campo Olímpico do Rio de Janeiro-RJ, Fazenda da Toca-SP e Alphaville Graciosa Clube-PR, mostrando um potencial mercado ainda a ser explorado. Ainda, uma espécie de bermuda que tem sido também recomendada para uso nesses locais, é a variedade Discovery, que devido a seu lento crescimento vertical, necessita menos podas, e pode ser uma opção para campos de golfe.
Outra grama que também merece destaque no uso em campos esportivos, que ainda é pouco conhecida no Brasil, mas que vem ganhando espaço mundo afora, são as variedades de Paspalum vaginatum (Seashore). Elas apresentam características semelhantes as bermudas, contudo tem exigências de até 50% menos água de irrigação. Vários países vêm utilizando essas variedades em seus campos esportivos devido a espécie ser altamente tolerante a salinidade, podendo muitas vezes ser irrigada com água do mar. Nos estádios da copa do mundo de Qatar 2022 mesmo, a variedade “Platinum” foi a selecionada para ser introduzida nos estádios, tolerando até 6.500 ppm de sais dissolvidos na água de irrigação. Já outras variedades como Sea Isle 1, Sea Isle 2000 e Sea Star são amplamente utilizadas em greens de golfe, devido a suas resistências a podas extremamente baixas. Curiosamente, essa é uma espécie pouco conhecida no Brasil, contudo é considerada nativa e pouco estudada e comercializada no país.
Contudo, um fato importante a se destacar, é que para comercialização de espécies de grama utilizadas em campos esportivos, é essencial que o material seja de qualidade, e a produção acompanhada por um engenheiro agrônomo responsável. Ainda, o produtor deve ser credenciado junto Ministério da Agricultura por meio do Sistema RENASEM (Registro Nacional de Sementes e Mudas), e sua produção regularizada através da inscrição do material de propagação e viveiros de produção junto ao MAPA, e que a grama comercializada seja acompanhado de Nota Fiscal e termo de conformidade (emitido pelo engenheiro agrônomo responsável pela produção), em atendimento a Legislação vigente de sementes e mudas (IN 24/2005 e Decreto 5.153/2004).
Assim, atualmente, o maior desafio durante a construção de um campo atlético está na base, que é princípio de tudo, sendo que a escolha da espécie de grama a ser implantada, varia de acordo com o campo esportivo, uso do mesmo e disponibilidade da mesma no mercado.